PEÇA DE MUSEU

 

Está um dia radiante, calmo e consigo apenas ouvir o barulho do lago em movimento. A água cristalina e bem azul reflete os raios do sol e harmoniza com o verde das árvores ao redor. Sentado em um banco de madeira enquanto contemplo a paisagem, vejo uma barquinho se aproximar, é mais uma canoa, com duas senhoritas dentro. Nitidamente elas estão com dificuldades para fazer a pequena embarcação sair do lugar.

O vento cuida sozinho do deslocamento, mas as damas não parecem tão felizes, há algum problema. Olho mais atentamente e percebo que o cachorrinho delas ficou para trás. A moça da esquerda, com chapéu branco, fala com o animal com uma vozinha infantil a todo momento e pede calma. “Calma meu amor, a mamãe vai pegar você”. Em resposta, o cãozinho abana o rabo e parece se divertir com a situação. A acompanhante, de chapéu laranja, tenta a todo custo remar fazendo movimentos rápidos e desesperados. A canoa não se mexe, elas apenas se molham enquanto os remos são agitados.

Aos gritinhos de duas meninas, elas reclamam da água que respinga. Duque parece gostar da farra. Pelo menos esse é o nome que elas chamam o cãozinho preto que as aguarda. Que confusão! Parece que o passeio de domingo não deu tão certo como o planejado. Ainda assim, o dia está lindo. O vento que bate no rosto é fresco e o calor está delicioso. Eu sempre gostei de tomar sol pela manhã, apreciar uma bela paisagem e ter a sensação de sentir cada molécula de ar que entra em meus pulmões.

Do outro lado do lago, há um casarão entre as árvores, talvez seja lá o destino das garotas e seu bichinho de estimação. É uma construção grandiosa e bonita. Perto da casa há pessoas que se movimentam, parece uma festa; eu gosto de festas.

Ao perceber o apuro das jovens, um barco maior se aproxima e um nobre rapaz vem ao socorro delas. Nesse momento fecho os olhos, respiro profundamente, me levanto e vou em busca de outra paisagem para alegrar meu domingo. Ali parece que tudo já foi resolvido. Sei que nada podia fazer para ajudá-las, mas me faz tão bem olhar para um lago em Argenteuil...

Volto a ouvir o burburinho das pessoas ao meu lado, olho para o mapinha que recebi na entrada e procuro outra sala de exposição para viajar no mundo das telas e encher de arte minha manhã de domingo.


Bruno Lopez


INSPIRAÇÃO

Sena em Argenteuil (1888) de Pierre-Auguste Renoir



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