O MENINO QUE TINHA MEDO DO ESCURO


 

Em uma noite qualquer, Léo, um garoto de cinco anos, muito educado e amável, teve que enfrentar um de seus maiores medos. O escuro.

Em sua cama, já deitado, enquanto a chuva batia em sua janela e assobiava com fortes ventos, seu abajur de foguete estava ligado como de costume. Se tinha uma coisa que podia piorar tudo e deixar o pequenino sem dormir, era uma tempestade durante a madrugada. Como sua capa de proteção para todo e qualquer problema, Léo sabiamente ficava debaixo das cobertas para passar imune às ameaças noturnas, ainda mais em um dia chuvoso.

Alguns barulhos o incomodavam; eram portas, e talvez, janelas que batiam; algumas telhas pareciam ser derrubadas em algum lugar mais distante; o uivo de um cachorro; o barulho tenebroso de chuva com ventos fortes, e para piorar, um grito. Parecia uma mulher gritando insistentemente pedindo por ajuda.

Abria e fechava os olhos sem parar, Léo tentava perceber se aquilo era um sonho, ou pior, um pesadelo. Mas quanto mais ele tentava fugir, mais os estranhos ruídos lhe chamavam.

Um clarão no céu. Um trovão. O foguete se apagou.

Não havia mais luz. Ele teve que levantar e seguir os gritos incessantes, pela porta do quarto ele só conseguia enxergar algumas sombras estranhas que se formavam com os relâmpagos que refletiam pela porta de vidro do corredor.

Ele precisava chegar no quarto do lado para chamar por sua mãe. Seu medo era tanto que cada passo demorava uma eternidade. Ele não queria chamar a atenção de nada nem de ninguém, ele precisava sair daquela situação são e salvo.

À medida que entrava no quarto de Cláudia, ele percebia que os gritos iam se aproximando. O coração estava disparado, gotas de suor escorrendo pelo pescoço. Pé sobre pé, Léo chegou até a cama de Cláudia e descobriu que ali não havia ninguém. Como um gato, saltou da cama e foi até o banheiro tateando os móveis. Quando conseguiu encostar na porta fechada, levou um baita susto com uma batida extremamente forte do outro lado. Fez xixi na calça.

— Léo, me ajuda. A mamãe ficou trancada no banheiro e a fechadura caiu do lado de fora. Você precisa encaixar para que eu consiga abrir a porta.

Léo não conseguia falar. Seu susto foi tão grande que mal sabia onde estava e muito menos o que estava fazendo.

— Léozinho, está me ouvindo?

Ele ouvia, mas não conseguia falar, tampouco se mover.

Depois de alguns minutos paralisado, com dona Claúdia gritando a todo pulmão, ele conseguiu mexer as pernas e um barulho metálico chamou sua atenção. Provavelmente era a fechadura, ou parte dela, que sua mãe precisava.

Com um ato de muita coragem, foi se movendo aos poucos, tocando o chão e pegou o que poderia ser a chave do banheiro. Com mais alguma força, ainda no blecaute, colocou o metal no buraco da porta e ficou virando até a peça encaixar. Os gritos haviam sumido, pelo menos em sua cabeça.

A porta se abriu, a luz repentinamente voltou e Cláudia pôde ver seu filho em pânico. Mesmo todo sujo e suado, Cláudia o abraçou e prometeu que naquela noite eles dormiriam juntos.

Depois do banho, no colo de sua mãe, Léo foi ficando bem e até caiu no sono mesmo com a chuva que não cedia. Ao acordar, viu mamãe trazendo o café da manhã na cama. Além de guloseimas matutinas, na bandeja havia uma lanterna.

— Essa é para ficar no seu quarto. Se acabar a energia elétrica, você pode usar até dormir.

— Mãe! Eu fiquei com tanto medo...

— É normal, a mamãe também tem alguns medos, mas sabe... do escuro não precisa ter, é tudo igual, mesmo a gente não enxergando. Com o tempo você vai perceber.

Anos se passaram, o menino virou jovem, o jovem se tornou adulto, e ainda hoje, quando chove forte antes de dormir, Léo liga seu abajur para se sentir mais seguro. Ele entendeu que o escuro não oferece tanto perigo, mas vai que...

Aliás, seu banheiro, em sua casa atual, não possui trancas; e a lanterna que ganhou de sua mãe, continua carregada na gaveta mais próxima.


Bruno Lopez



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