QUANTO CUSTA UM BOTÃO?

Imagem de Richard Corrêa

Hoje eu estava pensando na vida, no tempo que se passou, nas coisas que fiz ou deixei de fazer. Quantas respostas certas me apareceram depois; quantas ideias surgiram, mas não segui em frente; quantas vezes fui quem eu deveria, quando na verdade queria ser outra pessoa?

É impressionante como em um mísero minuto, tantas coisas possam passar em nossa mente. O cérebro parece não cansar de pensar tanto...

Eu dei valor para as coisas erradas em boa parte da minha vida. Tive muito sucesso como corretor da bolsa de valores, minha rotina era uma loucura, mas pude oferecer muito conforto à minha família e ter experiências incríveis, como por exemplo, comer nos melhores e mais renomados restaurantes, conhecer os cinco continentes, ver a Aurora Boreal ao vivo, sentir a neve, fazer um safari na África, visitar as flores de cerejeira no Japão, tantas coisas, cada lembrança...

Mas se eu digo que me importei com coisas erradas, às vezes, é porque nem sempre era isso que me fazia feliz. Obviamente viajar, comer e dormir bem, com muito conforto, faz qualquer um se sentir importante, mas neste instante, em que estou velho, ninguém se importa comigo. Tenho a leve impressão de que agora que não posso oferecer mais extravagâncias, eu perdi meu valor. Logo eu, que sempre dei mais importância para que todos ficassem juntos.

É claro que meus filhos me ligam e conversam comigo, mas é tudo sempre tão rápido que mal posso considerar. Meu filho mais velho seguiu minha carreira na bolsa, e este vive na loucura das metrópoles. O do meio fica preso em um laboratório fazendo pesquisas para mudar o planeta e o mais novo, colocou uma mochila nas costas e saiu conhecer o mundo a seu modo. Eu sempre dei meu apoio a todos e torço sempre pela felicidade deles.

Minha esposa me deixou... Com o tempo, nossa diferença de idade falou mais alto e ela logo se encantou por um cowboy metido a famoso e me deixou para trás, mas não sem antes garantir uma boa quantia em dinheiro. No fim tudo é dinheiro.

Mas nem sempre foi assim. Estou aqui em minha fazenda, olhando para o além enquanto balanço na cadeira da varanda. Em minhas mãos tenho um botão, que ganhei de uma antiga paixão da juventude. Naquela época éramos tão jovens, bobos e inocentes, mas sabíamos valorizar um amor. Jade era a garota mais linda da escola e todos a desejavam, mas eu fui o escolhido. Eu nem sabia direito o porquê, mas o fato é que ela me escolheu.

Tivemos um namorico de adolescentes, mas era algo verdadeiro e bom. Certo dia, quando ela veio triste em minha direção, me contou que seus pais se mudariam e que nunca mais poderíamos nos ver. Aquilo acabou comigo. Chorei. Chorei muito. Foi a primeira vez que derramei minhas lágrimas perto de alguém. Primeira e única.

Com um longo abraço nos despedimos e ela me entregou um botão verde, da cor de seu nome, brilhante, com quatro furinhos, onde se passavam as linhas.

— Para você nunca se esquecer de mim.

Como se aquilo fosse possível...

O guardei com todo meu amor. Com o tempo acabei deixando de lado e segui minha vida. Estudei, trabalhei muito, conheci minha esposa, tivemos três filhos maravilhosos, envelheci e cá estou eu.

Tudo tem um valor nesta vida, nem sempre é o valor que esperamos, monetário, que custa muito dinheiro, mas do afeto, da memória, do amor.

Tenho acesso a tudo o que o dinheiro pode comprar, mas talvez eu fosse mais feliz e mais rico em tudo o que pudesse se fosse ao lado de Jade. Onde estará Jade? Nunca mais ouvi falar, mas em meu coração ela nunca deixou de existir. Com um simples gesto me cativou e se tornou inesquecível. Eu sei que na época não tínhamos nada e aquilo foi muito, então, para mim, vale mais do que qualquer diamante raro. Agora, sabendo como minha vida foi e como poderia ter sido eu me pergunto...

Quanto custa um botão?

Bruno Lopez

Comentários

Postar um comentário

Conte o que achou do texto...

MAIS POPULARES