BANDEIRINHAS
— Mãe! Você comprou os papéis para as bandeirinhas? — Perguntou André assim que sua mãe chegou em casa do trabalho.
— Ai, que cabeça a minha... Para quando
precisa delas, meu amor?
— É para entregar amanhã. — Disse
o menino apreensivo.
— A mamãe vai dar um jeito, Dé...
— Eu te pedi faz tempo. A
professora vai me matar se eu não chegar com o trabalho e todo mundo vai ter
enfeites legais, menos eu! —Falou o garoto, já com lágrima nos olhos.
— Meu amor, vem cá. — André deita
no colo de sua mãe. — A mãe estava sem dinheiro, mas dará um jeito. Sei que já
está tarde, mas vai dormir que amanhã pela manhã você terá o seu cordão de
bandeirinhas ou não me chamo Lídia.
— Você promete? — Questionou o
menino olhando para o chão.
— Prometo.
Todos
os anos, as tradicionais bandeirinhas de São João são produzidas por todos na
cidade. É comum todas as casas enfeitarem as sacadas, janela e até as ruas com
as bandeirinhas mais coloridas possíveis. Com o passar do tempo, as coisas
foram evoluindo, e cada vez mais, as pessoas melhoravam suas bandeiras.
Utilizavam papéis requintados, recortes inovadores, mas sempre a criatividade estava
presente.
Na
escola de André não era diferente, ensinando a cultura local, a professora de
artes promovia um concurso aos sextos anos e os alunos deviam fazer um varal de
bandeirinhas para colocar na escola e uma comissão iria avaliar a melhor, mais
bonita e mais criativa.
Quando o dia amanheceu, André
acordou num susto, se arrumou sozinho e desceu para tomar o café da manhã. Como
de costume, sua mãe deixava tudo pronto, pois saía bem cedo para vender seus
produtos por catálogo, e normalmente, voltava muito tarde. André comeu
rapidamente, pegou um pacote, onde Lídia deixou as bandeirinhas prontas e saiu
correndo para a escola.
Era um momento esperado por
todos, vários alunos, meses antes, já se preparavam e começavam a produzir tudo
aquilo. A escola estava em festa. Muita cor, desenhos lindos e bandeiras
espalhadas por todo o pátio. Ao bater o vento elas dançavam como que em um
baile. Alguns papéis faziam barulho ao chacoalhar e chamavam ainda mais
atenção. A professora expôs todos os trabalhos e em breve os jurados iriam
fazer sua escolha.
André estava pouco esperançoso,
afinal, como sempre, seu trabalho foi feito de última hora e não era muito colorido.
Lídia fez o que podia, mas na realidade, eles não teriam chance. Ao olhar para
suas bandeiras, André gostava do que via, sua mãe teve a ideia de usar
fotografias e cortar em formatos de bandeiras. Utilizando a idade cronológica,
fez um varal que contava a história do filho, desde bebê, até aquele dia. Nas
fotos era possível ver quanto amor existia naqueles momentos, como, mesmo
sozinha, ela conseguia levar felicidade ao lar. Ele sempre foi muito amado.
Na hora do intervalo, André abriu
seu lanche, e nele tinha um bilhetinho:
“Desculpe por não ter comprado os papéis certos, a mamãe estava sem
dinheiro, mas espero poder te recompensar por isso. Vai dar tudo certo, a mamãe
te ama.”
Após o recreio, era chegada a
hora do anúncio do grande vencedor, que além do troféu, ganharia um presente da
escola. O mais desejado MP4 da época. André, assim como os outros alunos, ficou
junto ao seu cordão até o final do evento. Algumas pessoas riram do seu
trabalho, pois não era tão colorido, não utilizava os papéis exigidos no
edital, e então, foi desclassificado por não cumprir as regras do concurso.
O menino chorou muito e saiu
correndo para não ver mais ninguém, mas deu de frente com sua mãe, que na mesma
hora, o abraçou.
— Eu sinto muito. — Disse ela.
Já com as lágrimas contidas, na
hora da premiação, o diretor anuncia o vencedor e o parabeniza com um troféu
dourado e o tão esperado prêmio. No entanto, ele tinha algo mais a dizer:
— Este ano, tivemos belíssimos
trabalhos, mas um deles chamou bastante a atenção de um dos jurados. O varal de
fotografias emocionou a quem pudesse ver. Não podemos premiar um trabalho que
não está dentro do regulamento. Porém, gostaria de chamar o André do 6ºB ao palco.
Sem entender muito bem, André sai
correndo em direção do diretor e de lá de cima fica olhando para Lídia, que
também estava apreensiva.
— Aqui está a história da nossa
cultura em vários anos seguidos. Você nos trouxe um excelente trabalho,
mostrando a real importância da nossa tradição, a família. Hoje você não ganha
um troféu, mas ganha uma exposição permanente no museu de artes da cidade. Eles
amaram seu trabalho e sua criatividade. E eu, ganhei a oportunidade de rever o
edital para os próximos concursos. Obrigado pela incrível visão do amor.
Com muita emoção, todos
aplaudiram. Lídia, emocionada, foi ao encontro do filho e o abraçou bem forte.
— Nem sempre as coisas saem como queremos, mas às vezes podem ser muito melhores do que podemos imaginar. — Falou a mãe enquanto tirava uma nova foto em frente a exposição no museu da cidade.
Bruno Lopez
Que lindo, parabéns!!!!!!!!
ResponderExcluirObrigado pela leitura <3
ExcluirAchei muito bonito!
ResponderExcluirÀs vezes, a simplicidade é a arte mais bonita...
ExcluirQue lindeza de texto. Muitas memórias ♡♡♡
ResponderExcluirPode-se dizer que nossas vidas são nossas memórias <3 Ps.: melhor nickname
ExcluirQue emocionante!
ResponderExcluirObrigado :)
ExcluirArrepiei...
ResponderExcluirObrigado pela leitura <3
ExcluirQue arte
ResponderExcluirParabéns
Que nunca nos falte amor
Várias lições dentro do mesmo texto
Muito obrigado pelo carinho. Que nunca nos falte amor <3
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