O ELEFANTE PEQUENO

 


*O texto de hoje foi elaborado pelos dados do jogo Story Cubes. Através do sorteio e das imagens aleatórias, criei esta história do Pequeno, o elefante herói. Segue abaixo as imagens sorteadas (colocadas na ordem de utilização) :


 

O sol nascia bem cedo no acampamento biológico do Zoológico de São Tadeu. Eu estava na minha segunda semana de voluntariado para ajudar a cuidar dos animais. Minha função era catar as sujeiras dos elefantes. Gente, que tamanho de cocô! De pequeno, ele tinha só o nome. Eu gostava muito dos animais e por isso topei participar do programa de 20 dias, que de certa forma, me abriria muitas portas, mas antes de tudo, eu estava gostando daquela rotina com a natureza e contato com os animais.

Todos os tratadores e funcionários eram muito legais. Dona Judite, era minha preferida, preparava as melhores refeições e sempre servia com um sorriso no rosto (e colocava mais batatas fritas para mim). Os animais também eram bem tratados na reserva do parque, mas confesso que quanto mais eu ficava lá, mais incomodado eu me sentia por saber que o espaço deles era tão limitado, e mesmo sabendo que muitos estavam ali para sua própria segurança em não conseguir viver na selva, ainda me vinha um sentimento de que não era certo.

Hora do café da manhã junto com os outros voluntários e depois ir limpar o bumbum dos elefantes. Após fazer minhas tarefas e brincar um pouco com o grandalhão (e ficar todo sujo de lama), segui em direção ao aquário, onde ficava a sala do nosso chefe, senhor Granado. Ele, que já tinha cabelos grisalhos e um porte grande, sempre estava com a cara fechada e parecia bravo com alguma coisa, então quando ele nos chamava, íamos bem rapidinho para não irritar aquele que daria nossas cartas de recomendações.

Ao entrar naquele ambiente mais escuro, alguma coisa estava diferente. Tudo muito silencioso. Os peixinhos pareciam se esconder e tinha muita água espalhada pelo chão. Alguma coisa havia acontecido. Seguindo o rastro molhado, me deparei com um polvo, já bem fraco, nitidamente procurando um lugar para conseguir sobreviver. Imediatamente coloquei as luvas que eu sempre tinha em meus bolsos, o peguei com muito cuidado, afinal ele era muito escorregadio, e o coloquei de volta em seu aquário. O que teria acontecido?

Com medo daquele cenário de filme de terror, segui em direção a sala do senhor Granado e o caos estava estabelecido. Perdi momentaneamente os movimentos de minhas pernas ao vê-lo caído, com muito sangue ao seu redor. Um corvo saiu voando de sua mesa rumo a janela e para ficar ainda pior, havia dinheiro espalhado pelo chão e um frasco com algum produto químico que nitidamente foi jogado sobre alguns documentos e quem sabe até mesmo no pobre homem. Meu estômago estava revirando de vontade de vomitar com aquele cheiro e a cena de crime. Eu saí correndo de lá ao ouvir o alarme de emergência do parque.

Corri até a porta para poder espiar o que acontecia e também conseguir respirar um ar mais puro e percebi uma movimentação no portão de saída de mercadorias. Era Judite, tentando empurrar o pesado portão com um caminhão que ela parecia dominar. Ao me aproximar, para tentar entender, ela me olhou com sangue nos olhos, trocou a marcha e começou a me perseguir com o veículo. Sem entender muito bem, mas ao mesmo tempo imaginando mil coisas, saí correndo pelos corredores do zoológico para pedir ajuda, mas parecia que ninguém estava por ali. O protocolo de segurança dizia que devíamos todos ir ao ponto de encontro em caso de ouvirmos o alarme, então todos deviam estar lá.

Judite parecia querer me matar e eu só conseguia correr. Cheguei até a jaula do Pequeno, o elefante que eu cuidava e o mesmo me puxou com a tromba como que em sinal de proteção.

Judite, desceu do caminhão, e com um canivete em mãos pulou na jaula. No mesmo instante em que ela entrou, Pequeno, com sua enorme tromba, a pegou e lançou para longe. Eu tentava ainda juntar as engrenagens do meu cérebro para poder entender, de fato, o que havia acontecido, mas independente de tudo, naquele dia, mesmo sem uma coroa, foi Pequeno, o rei do Zoológico.

Depois do susto e em contato com os outros funcionários, a polícia chegou, cercou o local e esclareceu o que estava acontecendo. Judite fazia tráfico de animais aquáticos e Granado recebia uma boa quantia em dinheiro para facilitar o processo. Com um desentendimento de ambos nas negociações, ela o matou e tentou fugir, mas na tentativa de me silenciar, ficou agora impossibilitada de andar. Mesmo machucada, terá que dar explicações da cadeia, e segundo ela, todos os envolvidos pagarão.

Um novo grupo de pessoas tomaram conta da administração do parque, mas assim que meus dias como voluntário esgotaram, eu deixei o lugar e as batatas fritas extras que me custaram bem caro. Apesar do susto e do trauma que fiquei de lá, de vez em quando, a saudade bate e vou visitar Pequeno, o meu grande salvador.

Bruno Lopez

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