O BALÃO DOURADO
Quando
eu era criança, lembro bem das festas nos parquinhos de diversão da cidade e
papai sempre me deixava ir em alguns brinquedos. Eu adorava aquilo tudo. Às
vezes, ele ia comigo no carrinho de bater ou em algo mais emocionante, mas era
de praxe irmos à roda gigante. Era um momento só nosso, praticamente uma
tradição. Lá de cima, nós podíamos ver tudo. As luzes, as cores e os balões.
Na
época em que minha mãe ainda era viva, eu lembro que ela também amava esse
nosso ritual. Uma vez, em especial, ela me comprou um presente. Nele não tinha nada
desenhado ou escrito, era apenas um balão, no formato de um. Era lindo, dourado,
enchia os olhos de quem via. Eu fiquei surpreso com aquilo, era o meu novo
preferido.
Foi
um dia e tanto, lembro de ficar tão cansado a ponto de quase pedir para ir
embora. Quando acordei, no outro dia, o balão estava lá, me esperando para
brincar. Não pensei duas vezes, fui logo vestindo qualquer roupa, passando as mãos
nos olhos para limpar, mal arrumei o cabelo e saí correndo pelas escadas com
pressa de chegar logo ao quintal e criar brincadeiras com meu balão de ouro.
Mais
tarde naquele dia, meu pai me chamou com pressa e com aspecto desesperado.
Havia acontecido alguma coisa com mamãe. Ao chegar no hospital, percebi que era
algo muito triste, pois toda a família já estava lá. Eu era criança e não
entendia. Só lembro de uma médica pedir que eu fosse vê-la. Ao chegar no quarto,
no colo de papai, olhei para ela e fiquei com vontade de chorar. Todos choravam
por ali, menos ela, que sorria ao me ver.
—
A mamãe te ama muito! E quando sentir minha falta lembre que eu estarei sempre
com você, em qualquer lugar, serei o seu balão dourado.
Eu
não queria ou não sabia entender o que estava acontecendo, então a abracei, mas
me tiraram às pressas do quarto. Nunca mais a vi.
Durante
meses a casa ficou triste. Eu sentia muita saudade. Papai ficou mal, mas
sabia que eu precisava dele, então diariamente, fazia o seu melhor. Aos poucos,
apesar da falta que sentíamos da minha mãe, voltamos às rotinas. Quando chegou
a época das festas, ele me arrumou e prometeu que nos divertiríamos muito.
Daquela
vez, um amigo e um primo foram com a gente, e realmente, foi muito legal.
No fim das contas, a gente brincou muito, tentamos a sorte na pescaria e
acabamos comendo alguma porcaria deliciosa nas barracas. Como um final
perfeito, fomos dormindo no carro até chegar em casa e desmaiar na cama, para só acordar no
dia seguinte.
O
balão que eu havia ganhado de mamãe sempre ficava em meu quarto, e meu pai
fazia questão de mantê-lo cheio. Certo dia, resolvi brincar com ele, e com uma
distração seguida de um tropeço, o balão se foi. Chorei. Chorei muito. Quanto
mais o balão subia, mais lágrimas caíam. Ele desapareceu quando se misturou ao sol.
Meu
pai tentou substituir, mas não adiantou. Aquele era diferente. Chegou em um
momento especial, por uma pessoa especial.
Tudo
na vida passa. Superei mais esta tristeza e segui minha jornada. Como sempre,
estava junto aos meus amigos e familiares, mas ainda sentia falta de mamãe. Eu
sabia que ela estava comigo em pensamento por onde ia, mas não tinha como negar
a falta que ela me fazia.
Hoje,
ao voltar do trabalho e falar com meu pai pelo telefone, sentei em um parque da
cidade, onde alguns skatistas faziam manobras na pista e o sol começava a se
pôr. Fiquei contemplando a bela paisagem e lembrei de mamãe. Mentalmente, fiz
uma oração e pedi que estivesse sempre ao meu lado.
Como
num passe de mágica, uma garotinha atravessou meu caminho com um balão dourado,
não qualquer um, mas um idêntico ao que eu tinha quando era pequeno.
Um
sorriso invadiu minha boca enquanto eu olhava fixamente para o brinquedo. A
menina se assustou e com medo de eu roubá-la, saiu correndo e gritando para sua
tia. Ri de novo da situação, mas desta vez, olhei para cima. O céu, já quase
escuro, me confortava. Sorri mais uma vez e fechei os olhos.
—
Obrigado por sempre estar comigo. Te amo!
Bruno Lopez
Own...a doce relação da infância mesclada com a tragédia da perda. Gostei do amadurecimento da personagem. Amei!
ResponderExcluirObrigado pela leitura e fico feliz que tenha gostado. A personagem amadurece muito ao longo do texto. Beijos.
ExcluirFabuloso!...Seus contos são mágicos!...Amei cada palavra!...Parabéns, querido!...🥰🤩❤🤗💋🙌👏👏
ResponderExcluirOwnnn! Muito obrigado pelo carinho <3
ExcluirAchei o texto lindo! Parabéns Bruno, vc escreve muito bem!
ResponderExcluirAh, que maravilha! Fico feliz que tenha gostado <3
ExcluirLindo texto, a morte é só uma passagem para algo maior, achei engraçado a inocência da garota de achar que o balão seria alvo de interesse escuso mas realmente já devem ter ocorrido roubos de balões por cleptomaniacos.
ResponderExcluirAh, obrigado! Feliz que tenha gostado. Realmente a morte é mais uma etapa... quanto à garota, só estava protegendo seu maior bem hahahaha Obrigado pela leitura <3
ExcluirLindo..... amei!
ResponderExcluirObrigado pelo carinho <3
ExcluirQue conto
ResponderExcluirAmei
Emocionante e reconfortante
Parabéns
Ah...obrigado pelo carinho de sempre <3
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