BRIGADEIRO DA ALEGRIA

 *Dedico este texto a todas as pessoas que perderam alguém que alegrava seus dias. Em especial ao ator Paulo Gustavo que nos fez rir em todos os momentos, levando sempre consigo muita alegria em viver. Que Deus abençoe a todos que partiram e que nós possamos levar mais sorrisos por onde passarmos.

Uma terça-feira comum e Jojô resolveu mudar a cara daquele dia. Na verdade, não se tratava de qualquer número perdido no calendário. Era 4 de maio. Todos os anos, ao se aproximar desta data, ele fazia alguma coisa para se alegrar de alguma maneira, e ao mesmo tempo, levar sorrisos para os outros.

Nos anos anteriores, Josias fazia palhaçada em hospitais infantis, ajudava em campanhas beneficentes, participava de mutirões, mas ao ver uma triste cena, decidiu marcar seu evento anual de outro modo. Estava caminhando até a igreja para suas orações, e ao atravessar a avenida da Liberdade, viu uma senhora que vendia brigadeiros. Ela ofertava a todos com um sorriso no rosto, mas ninguém parecia a ver. Ela, ainda assim, não desistia, e mesmo nitidamente cansada, não parava de tentar.

Era final de tarde e após observá-la por alguns instantes, Jojô teve a brilhante ideia de, em um ato, alegrar muita gente. Ele se aproximou, a mulher, já com pouca esperança, perguntou se ele gostaria de um doce.

— O que você vende tanto, moça? — Perguntou espantado ao ver de perto que a tal senhora, provavelmente era bem mais jovem do que aparentava.

— Brigadeiros! Os melhores. Garanto que o senhor nunca experimentou um tão gostoso antes...

— Que legal, vou querer. Qual o seu nome?

— Nossa, nem acredito! Hoje está tão difícil, e tenho os meninos pra sustentar... quantos o senhor quer? Ah, me chamo Linda. — Disparou a falar toda atrapalhada, mas nitidamente feliz.

— Não está fácil, né? Quantos filhos você tem, Linda?

— Tenho três, mas por quê? — Questionou meio desconfiada.

— Porque vou querer quatro brigadeiros para viagem e mais quatro para você. Aposto que eles quase nunca comem esses brigadeiros deliciosos.

— Não, moço. O que isso? Não precisa. Às vezes eles comem sim e esses eu preciso vender para comprar comida. Não poso aceitar isso. — Respondeu prontamente a mulher.

— Por favor. Hoje é um dia muito triste para mim e não quero que ninguém mais se sinta mal, pelo menos no dia de hoje. Leva esses docinhos para as crianças, para eles terem algo diferente hoje à noite, por mim... — Insistiu o rapaz.

— Nem sei o que falar. O senhor fala de um jeito... não consigo nem falar não, moço. Mas não precisa mesmo, viu? — Tentou argumentar a vendedora.

— Eu sei que não, mas aposto que vocês merecem.

— O senhor deve ser um anjo mesmo. Hoje eu não tinha vendido nada, o senhor me aparece e compra logo oito unidades. Salvou meu dia, vou poder comprar umas coisinhas para gente comer e mais umas horinhas aqui e tento vender mais alguns. Muito obrigada mesmo. — Falava sem parar enquanto sorria de orelha a orelha.

— Quantos você ainda tem aí, Linda? — Perguntou Josias por curiosidade.

— Ah, tem vários ainda. Não vou conseguir vender tudo hoje, ficam alguns para amanhã. Tem mais de trinta...

— Faz assim, me veja todos. Leve os que dei para vocês e os demais vou alegrar a vida de outras pessoas hoje. Aproveite e vá para casa descansar e ficar com seus meninos. Vocês merecem.

— Nem brinca com essas coisas moço. Tem alguma câmera escondida aí? — Perguntou Linda.

— Não. Estou falando sério. Quero tudo. — Insistiu mais uma vez.

— O senhor me desculpa, mas na vida de pobre não acontece essas coisas assim não. Tem alguma coisa... — Argumentou a mulher muito desconfiada.

— Garanto que não tem, apenas aceite e vá para casa. Compre suas coisas, fique com sua família o máximo que puder, os abrace, comam o doce, deem risada e se divirtam como nunca...

— Ai moço, eu vou chorar. É verdade mesmo? — Disse Linda emocionada.

— Tudo bem, mas chegando em casa sorria o quanto puder, faça de hoje um dia inesquecível.

— O senhor deve mesmo ser um anjo que veio dos céus!

— Não sou. Sou apenas alguém que quer levar alegria aos outros hoje. Já sofri muito e acho que ninguém deve passar por isso também. — Falou com tristeza no olhar.

— Posso te perguntar o que aconteceu? — Lançou Linda curiosa.

— Eu perdi meu melhor amigo, há alguns anos, para uma doença incurável. Ele era minha família, meu porto seguro, meu irmão, a pessoa para quem eu ligava quando precisava ou quando não queria falar nada, minha melhor companhia, minha alma gêmea da vida toda. No dia em que ele partiu, como sempre, o fez sorrindo e divertindo todos ao seu redor. Ele me mandou uma mensagem falando que estava bem, tirando sarro de mim e que ele sabia que ia ter que me deixar. Nunca mais o vi. Depois de dias, fui até a casa dele e achei um cartão em meu nome que dizia que eu devia levar amor e sorrisos para todos que eu pudesse, porque era isso que eu fazia na vida dele. Mas a verdade é que era ele quem fazia isso comigo.

Com a emoção à flor da pele, ambos choravam e se abraçavam ao mesmo tempo. Eles se despediram sem ao menos trocar um telefone ou com uma promessa de se ver novamente. Ela agradeceu, sorriu novamente e lhe lançou um olhar amoroso.

Sabendo que o amigo estava ali de alguma forma, Josias ficou próximo ao metrô e começou a distribuir os docinhos, com seu maior e melhor sorriso. Algumas pessoas se afastavam por medo, outros desconfiavam da boa ação. Mas a maioria reconhecia seu ato de generosidade.

Ao entregar o brigadeiro àqueles que permitiam, Jojô os abraçava, quando podia e lhes dizia:

“Que este doce leve sorrisos para o seu dia e estes sorrisos contagiem a todos que passarem por você, principalmente os que você ama. Você é especial e merece ser feliz hoje.”

Muitos se emocionavam no local. Agradecidos pelo ato inesperado, depois de um dia cansativo de trabalho, estudo, ou qualquer que fosse seus afazeres, por um momento, ao menos, seus dias ficaram melhores, mais felizes e mais leves.

Que nada seja em vão. Que o bom humor sempre prevaleça, e que os bons, sempre sejam inspiração.

Bruno Lopez