ERA COMO SE FOSSE...

 

Marcos tinha pouco tempo para ficar consigo mesmo e organizar seus pensamentos. Quando conseguia parar para fazer isto, alguém sempre o interrompia. Morando em uma casa com mais seis pessoas, trabalhando com atendimento ao público o dia todo em uma farmácia, estudando EAD à noite, e ainda tentando manter sua vida social com os amigos, ele nunca estava só.

O único momento que tinha para si, era durante o banho. Sempre que podia, demorava um pouquinho mais naquela ducha gostosa e quente. Aquele momento especial era como se fosse uma meditação para ele. Lá ele conseguia colocar suas ideias no lugar, levar sua imaginação para onde quisesse. Fechava os olhos, e de repente, estava recebendo seu diploma de biomédico; mais alguns segundos e concorria a um prêmio por uma pesquisa que havia elaborado; enquanto pegava um pouco mais de sabonete, podia dançar uma valsa em um grande salão, com alguém especial, usando vestes de primeira e uma orquestra afinada lhe acompanhando.

Quando ia lavar a cabeça, era como se fosse acordar após dormir sem preocupações, o auge. O pote de shampoo se transformava em um microfone, do qual ele agradecia a todo o público pela presença em sua palestra. Ao massagear a cabeça com a espuma e sentir o cheirinho de lavanda, podia respirar fundo e relaxar.

Ali não tinha celular, telefone tocando, planilhas para preencher, matérias para estudar, pessoas para ouvir; ali era apenas ele e seus pensamentos. Com aquela água caindo sobre seu corpo, podia ser quem ele quisesse, estar onde desejava e renovar suas energias.

Marquinho poderia ficar ali para sempre, mas a eternidade acabava sempre com um: “Você pensa que sou sócia da Eletropaulo?”.

O registro se fechava, tudo recomeçava, parecia que nunca nada mudava, mas aos poucos, ele alcançava, pelo seu esforço, tudo o que desejava. Sua inspiração? Cumprir seus afazeres para ser feliz e poder entrar novamente debaixo da água quente que lhe trazia a tranquilidade. De banho em banho, encontrou espaço para tudo em sua vida, e ele sonhava alto... Aos pouquinhos alcançava cada objetivo, realizava cada sonho. E sempre que possível, fazia a chuveirada durar um pouco mais. A cada gota que caía, um sorriso dele se abria.

Bruno Lopez