A ÚLTIMA VEZ QUE VI A PRAIA


Eu não sei exatamente quando isso começou, mas desde criança, toda vez eu que ia a algum lugar diferente e gostava muito, eu queria registrar em minha memória, a imagem daquele local. Mamãe chamava a todos, pois estava na hora de ir e eu sempre demorava mais que meus irmãos.

Eu tentava aproveitar tudo que eu podia de cada cenário, mas era na hora de se despedir que a magia acontecia. Como um gatilho, a voz da minha mãe nos chamando me fazia olhar para algum lugar específico, fixar minha visão por um tempo, respirar fundo, sentindo o cheiro que ali estava, e por último, fechar os olhos para repassar a cena em minha mente.

Eu realmente ficava muito triste quando tinha que ir, mas com o tempo, tudo se cicatrizava. Para o meu consolo, em minhas lembranças estavam cada momento que registrei. Lembro da praia de São Vicente quando olhei pela janela da casa alugada em frente ao mar; recordo também, da cerca de madeira do sítio do tio avô de meu pai; o escorregador infinito de um parque que fui com a escola em uma excursão; as pedras escorregadias da cachoeira do Olímpio; a carinha da girafa no zoológico da capital, e até mesmo, da poltrona quebrada que sentei em um circo da cidade. Todos foram momentos únicos, especiais e marcantes.

É claro que algumas pessoas acham bobagem essas coisas, mas eu prefiro pensar que vivi de verdade cada momento que me deu prazer, cada centímetro de boas recordações ficaram ativadas por aquelas cenas. Porque seria muito triste se eu apenas passasse pelos lugares, tirasse fotos, comesse, me divertisse um pouco e dormisse, como se tudo fosse normal.

De fato, nem sei o que seria normal, mas o que quero dizer é que cada coisa que fazemos, principalmente as que nos fazem bem, devem ser imortalizadas de alguma forma, tratadas de modo diferente, e não banalizadas como se fosse uma obrigação. Sou feliz em ser assim, tenho orgulho dos meus registros mentais, pois isso, ninguém nunca poderá tirar de mim.

Com os sorrisos que brotam em meu rosto com as imagens armazenadas, consigo até lembrar do aroma, da temperatura, de tudo... Ainda bem que sempre fiz assim, afinal, com todos os sentidos aflorados, me esqueço que aquela foi a última vez que vi a praia.

Bruno Lopez 

Comentários

  1. Que lindooo! Lendo, percebi como sou assim até hj...❤️❤️❤️

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    1. Ah... que legal saber disso!! Tem uma magia toda envolvida <3

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  2. Adorei! E não é assim mesmo, que sentimos?

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  3. A última vez que vi/fui a praia foi em 2001 😱, nunca mais fui, e foi em São Vicente, num ap do marido da amiga da minha filha, foi um fiasco, nunca fiquei tão mal com tanta falta de cortesia 😕, mas tudo pode mudar,e vai mudar 🙂🙏🏻

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    1. Ah, mas independente dos perrengues de viagem, a nossa memória guarda um cantinho especial para as paisagens inesquecíveis...

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    2. Arrasou Subte, várias memórias delicinha tive agora. Queremos mais poemas, histórias e contos de praias ♡♡ beijocas.

      Obifa Caparica

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    3. Praias sempre trazem boas lembranças... Obrigado pelo carinho Subte.

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