DIA DE CIRCO

Eu não sei bem se era a primeira vez ou se fazia parte de uma memória afetiva, mas algo me chamou mais atenção no circo do que as próprias apresentações.

Havia uma senhora, aparentemente com mais de 80 anos, que estava encantada com tudo o que via naquele picadeiro. Era simplesmente reconfortante vê-la se divertindo tanto. Entre as acrobacias e shows de luzes, ela completava sua experiência comendo pipoca e algodão doce.

A cada palhaçada, ela respondia com risos, acenos ou palmas empolgadas. Nos números mais tensos como ilusionismo, equilíbrio e globo da morte, ela praticamente ficava em pé para assistir de tanta tensão. Ela roía as unhas, olhava para o lado para ver se todos estavam vendo aquilo que a impressionava, e inconformada com a habilidade dos artistas, ela aplaudia em pé quase sempre.

Nos olhos dela era possível ver e entender a felicidade. Naquele momento, por aproximadamente duas horas, não haviam problemas na vida daquela mulher, apenas a ternura da inocência de uma criança.

No olhar já senil, era possível imaginar todo um roteiro que a anciã já havia vivido. Qual teria sido a participação do circo em sua jornada, até então?

Talvez fosse a primeira oportunidade de assistir a um show daqueles, ou fizesse muitos anos que não via algo que lhe emocionava tanto, ou ainda, a lembrou que no passado não fugiu com a trupe atrás de um grande amor...

As possibilidades eram muitas, mas acima de tudo, independentemente de sua história, a velhinha não perdeu o brilho no olhar, e nitidamente, estava aberta a viver novas experiências e fazer isso de maneira intensa. Ela usou tudo o que tinha a seu favor, e eu, que perdi parte do show reparando em suas atitudes, entendi que haviam dois espetáculos acontecendo sob aquela enorme tenda.

Bruno Lopez