DOSES DE VENENO


Como de costume, eu tomava um comprimido que me deixava mais leve, mais feliz. Não chegava a me fazer esquecer dos problemas, mas me dava força para conseguir contorná-los. Há alguns anos eu utilizava o método para ficar bem comigo mesmo.

A dica veio de um amigo, que também fazia uso do medicamento restrito e conseguia a receita especial para que pudéssemos comprar. Quando estava acabando, eu já ficava paranoico, pensando que se eu não conseguisse outro pote daquelas drogas, eu não conseguiria aguentar a minha própria vida.

Eu nunca percebi que aquilo me causava alguma reação adversa. No rótulo dizia que elas não existiam, mas mesmo assim, em algum momento eu sabia que algo poderia acontecer, afinal, qual o remédio que não tem algum perigo para o nosso corpo? Na simples indicação de uso, que vinha dentro da caixinha, apenas dizia que tomasse um por dia antes do almoço, e se necessário, tomar quando algo causasse muito estresse.

Como minha vida sempre foi cheia de altos e baixos, eu vivia tomando, pelo menos, uns dois por dia. Nunca aquilo tinha me feito mal, pelo contrário, a sensação de bem estar e domínio sobre a minha vida era notável. Talvez eu fosse um dependente químico, mas quem se importa? Eu estava apenas encontrando uma maneira de me cuidar.

Depois de anos utilizando o recurso, meu amigo perdeu o contato que lhe conseguia as tais bolinhas mágicas. Meu mundo desabou. Eu não conseguia enxergar luz e esperança em mais nada. Tudo que eu tinha conquistado estava sob efeito daquele remédio poderoso. A ansiedade aumentou, o medo de tudo também, e logo após acabarem os últimos comprimidos, comecei a ficar em pânico, simplesmente não conseguia me concentrar, ou fazer qualquer coisa.

Com a TV ligada no noticiário que falava sozinho, ouvi uma repórter dizer que encontraram o produtor do tal remédio. Minha atenção se voltou à notícia, e segundo informações do canal, um velho senhor enganava o povo com balinhas de açúcar, para provar que o poder está sempre em nossa mente. Ele estava sob investigação.

Minha cabeça começou a doer. Aquilo tudo queria dizer uma só coisa, tudo era fruto da minha mente. E eu fui um idiota também, mas apesar disso, eu tinha realizado tudo que eu realmente acreditei que era efeito de um remédio. Era eu o tempo todo. Os sentimentos, as capacidades, os domínios sobre mim... Eu não conseguia enxergar o ser maravilhoso que eu era, preferia me esconder em pequenas doses de veneno, escolhia não assumir a responsabilidade das minhas realizações. Insegurança era a real droga por ali!

Depois disso tudo, passei a acreditar mais em mim do que em qualquer outra coisa. Percebi que eu era sim capaz, que meus desejos me pertenciam e que nossa mente é o controle de tudo. Descobri que eu era, de fato, um ser realizador.

Bruno Lopez


 

Comentários

  1. Que show...nossa mente é tão poderosa, que nem sabemos o quanto podemos ser fortes e donos de nós mesmo. Parabéns 👏

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  2. Uau! É preciso acreditar em nossos talentos.

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  3. Vivemos num mundo de muitos enganos, porém,se começarmos a focar somente no que interessa, o resto vira pó!

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