A LUZ DA CARRER DE LA CANUDA


Por diversas vezes eu tive o mesmo sonho. Eu sonhava que estava perdido entre as vielas da cidade velha. Lá não passavam carros, eram somente pessoas, muitas delas. Às vezes surgia uma lambreta ou bicicleta, mas ainda assim, não era tão comum.

Toda vez estava escuro, era noite e não havia luz elétrica. Não sei dizer se tinha acabado a energia ou se era em outra época, os sonhos são tão mágicos que nos levam para qualquer dimensão. As fachadas dos prédios baixos eram lindas, as centenas de janelas pareciam me assistir, as paredes de pedra e em tons de cinza e creme formavam um corredor infinito. O ponto de partida era sempre em frente a uma grande porta vermelha. Mas eu, só conseguia ver mesmo duas coisas.

Uma delas era o enorme corredor de estrelas que formava sobre nós, eu fica olhando para cima, tentando me encaixar, entender onde estava. Na verdade, friamente pensando, eu sabia qual a cidade em que eu passeava, mas durante o sonho era uma eterna busca pela resposta.

Ao caminhar lentamente com a multidão passando contra mim, eu sentia que estava indo de frente ao perigo. Todos voltavam, eu seguia. Com muita resistência, mas parecia querer enfrentar o que quer que fosse.

A outra coisa que eu enxergava com nitidez era uma luz. Parecia uma tocha com fogo aceso, bem longe... Alguém a segurava, mas eu não conseguia decifrar quem era. Mas durante o devaneio, meu objetivo era chegar até o clarão.

Sempre que eu acordava ficava reflexivo. Sem ao menos esperar, o sonho voltava em minha cabeça, e como se fosse uma novela, dava continuidade de onde parou, mas sempre voltando do início. Com novos recursos a cada episódio, a meta era a mesma. Com ou sem chuva, pouca ou muita visibilidade, passo a passo eu chegava onde queria. No fundo eu sabia que chegar na luz resolveria tudo.

Escrevo este relato hoje, pois na última noite eu consegui, eu encarei de frente a tal luz. O homem que a erguia no alto, sorriu e me entregou com um ar de “agora você entendeu tudo...”. E aquilo era um fato. Peguei o meu brilho, tudo clareou, o povo desapareceu, o céu se transformou em dia, as construções ganharam vida, pássaros passavam cantando, flores apareciam, uma música típica tocava ao fundo, e eu, simplesmente sorria.

Por incrível que pareça (ou não), o homem que me dera a luz, era eu.

Bruno Lopez


 

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