VAZIO


Me deparei comprando coisas demais nos últimos tempos.

Eram muitas utilidades que nem sempre eram tão úteis. As comidas também entraram no exagero. Nossa, como eu comecei a comer mais, principalmente os doces!

Além disso tudo, eu não podia ver a palavra “promoção” que já me acelerava o coração. Também entravam na fila das palpitações as “liquidações”, “sale”, “off”, “saldão”, e todas que queriam dizer que eu pagaria mais barato por algo que eu sequer precisava.

No fundo, aquilo me preenchia momentaneamente, eu queria comprar, era bom comprar, a sensação de passar o cartão era simplesmente uma terapia. Eu virei um consumista acumulador. Logo pensei naqueles programas da TV em que as pessoas ficam vivendo em casas com ratos e montanhas de objetos. Eu precisava fazer algo antes que alguém me interditasse.

Além de gastar mais dinheiro do que o necessário em coisas inúteis, ao invés de utilizá-lo com sabedoria em algo que me desse sentido à vida, como uma viagem, ajudar ao próximo, executar meus objetivos independentemente de quais fossem...

Nunca tive problema com dinheiro, ainda bem, mas não era questão de quanto eu gastava ou economizava, mas sim do que aquilo representava em mim. Após várias sessões de verdadeira terapia, comecei a me analisar e entender que tudo que eu (exageradamente) colocava para dentro, fosse comendo ou adquirindo, era para suprir um vazio que eu tinha. Um espaço aberto feito por aquela coisa que nunca queremos falar ou mexer, queremos deixar guardadas naquele quarto cheio de bagunças, mas é ali que está o problema.

Quando olhei de fato o que era, fiquei mal. Não queria tocar na ferida, mas era necessário. Nenhuma roupa ou eletrônico da moda iria fechar um buraco que você deixou aberto, nenhuma comida, por mais gostosa que fosse, tiraria de si uma experiência ou sensação ruim, tudo isso servia apenas para mascarar e nos levar a outras questões...

Ainda não consegui costurar todas os espaços daquele machucado, mas estou aos poucos, diminuindo as lacunas. Parei de comprar tanto, parei de gastar meu tempo consumindo e estou dedicando à caridade e a mim mesmo, e isso tem sido a melhor descoberta.

Tenho me sentido melhor e conseguido fazer mais pelo mundo em que vivo, até plantei algumas árvores recentemente. E a partir do momento em que consegui mudar, me dei conta que as minhas mágoas e coisas mal resolvidas não deixariam de existir por novos vícios e maus hábitos, apenas criariam mais consequências para a própria questão inicial.

Bruno Lopez


 

Comentários

  1. O mundo em que vivemos hoje tem tudo que nos possibilita preencher os vazios com compras. Realmente é um perigo. Por outro lado, o mesmo mundo também tem possibilidades infinitas para nos preencher com o que nos faz melhores. Basta olhar com atenção (pra dentro e pra fora). :)

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  2. Muitos tentam preencher seus "vazios" em coisas e alimentos!
    Muitos até se enganam com amizades, mas quando realmente encontrar a verdadeira peças desse quebra cabeça daí sim tudo muda e tudo se encontra

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