O PARDAL E AS POMBAS


 

Em uma rua da cidade, alguém deixara cair uma coxinha, dessas grandes que se vendem como lanche. Era apenas a metade e três pombas a disputavam para comer. Elas bicavam e tentavam despedaçar para então poder engolir, afinal elas não tinham dentes e precisavam ir estraçalhando aos poucos para se alimentar. Os pássaros não pareciam se saciar, mas ao mesmo tempo era possível notar que elas não brigavam entre si, mas dividiam cada pedacinho.

Eis que em determinado momento chegou um pardal; mirrado, franzino e faminto. Ele tentava a todo custo se misturar a elas, mas as pombas não davam espaço ao pequeno. Alguns nacos da coxinha iam parar longe com as bicadas das grandalhonas e ele se aproveitava daquilo. O pequenino foi se infiltrando para conseguir comer mais, mas as três veteranas o espantaram e ele ficou sem nada.

As pombinhas eram solidárias, mas somente com quem era igual. Continuaram compartilhando entre si. Duas mulheres, que pareciam amigas, passaram por ali e meio que por maldade espantaram os pássaros que comiam. As donas do pedaço não se importaram, afinal eram pombas, e voltaram ao banquete. Mais tarde chegou uma nova pomba mais clara e entrou para o rodízio, ninguém se manifestou e assim derem sequência. Isso deu abertura para a chegada de mais três cinzentas, assim como as primeiras, e todas devoraram o salgado.

Em questão de minutos, elas acabaram com a comida, mas todas pareciam bem alimentadas. Afinal, quando se compartilha, todos podem se fartar. 

Mas pensando sobre o pobre pardal, ele não teve muita chance por ali. O pequenino não pode abocanhar muito daquele lanchinho, era permitido somente para aqueles que fosse iguais, a quem pertencesse a mesma bolha.

Refletindo sobre isso, trago ao pensamento que muitas vezes somos legais, proativos e solidários apenas com aqueles que nos interessa ou temos afeto de alguma maneira. Que tal fazermos diferente das pombas e dividirmos a coxinha com quem quer que precise e queira se juntar a nós?

O mundo é diverso e não existe o outro. Somos todos um.

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